terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

TOUR CULTURAL MUSEU DE FAVELA

Foto: Sara Schuabb
MuF promove segunda visita a território museal
Visitantes percorrem roteiros vivos, com apresentação de Rap, capoeira, break, coral, samba e relatos de memórias da comunidade

Cerca de 30 visitantes, de crianças a estudantes e estrangeiros, tiveram a oportunidade de conhecer no último sábado (30) as memórias e expressões artísticas dos morros Pavão-Pavãozinho e Cantagalo, na cidade do Rio de Janeiro, percorrendo a ONG Museu de Favela – MuF , um museu a céu aberto que busca agregar e fortalecer a cultura local, através do resgate da memória e cultura de seus moradores e que integra o projeto Pontos de Memória, coordenado pelo Departamento de Processos Museais do Instituto Brasileiro de Museus (DPMUS-IBRAM).

Durante a concentração, os visitantes assistiram a um vídeo sobre a criação do museu e foram brindados com a apresentação de Rap do presidente do museu, ACME. De cima de uma laje, usando a música como instrumento de conscientização, o também grafiteiro e sócio-fundador e articulador do MuF deixou a mensagem da visão do museu – agregar a cultura , a história e toda a riqueza de idéias do morro. “O MuF quer encorajar essa galera a botar a cara e elevar a alma desse território museal de favela.”

Jefferson Lessa, morador de Ipanema, diz participar pela segunda vez da visita-guiada ao MuF. Para ele, esta é a oportunidade de conhecer outros ângulos e realidades da cidade que parecem ocultos. “A iniciativa é uma forma de a comunidade abrir suas portas para quem não a conhece, tanto para os moradores do Rio quanto para os turistas.”

A visitação, cujos roteiros foram elaborados a partir de pesquisas realizadas com a própria comunidade, foi dividida em dois percursos: Pavão-Pavãozinho e Cantagalo, com duração de duas horas e meia e guias da própria comunidade. O grupo do Pavão-Pavãozinho passou pela estação do bondinho, inaugurado em meados de 80 no Governo Brizola , seguiu para Casa da Antônia, liderança do morro – o local funciona como uma lojinha da Rede MUF de artesãs e como a parada do chá medicinal. O percurso também passou pelo Bar do Dorico, localizado em um largo que é uma grande encruzilhada , utilizado como palco de apresentações culturais e como uma espécie de teatro de arena, pela laje da Valdete , que contempla uma vista privilegiada de Copacabana, com direito a sucos de diversos sabores, batida, água e refrigerante. Na volta, os visitantes conheceram a primeira igrejinha do morro e assistiram à apresentação da bateria mirim da comunidade.

Já no trajeto Cantagalo, os guias conduziram os visitantes a pontos históricos, tais como a rua homônima a Haroldo Santos, um dos grandes ícones do samba carioca, a Casa do Adão Dãxalebaradã, que foi pai de santo e compositor de mais de 500 músicas sobre cultura afro-brasileira. Passaram pelo Forte - que funcionava como posto de radar e controle de tráfego de navios do exército no Forte de Copacabana. O percurso também contou com apresentação de uma roda de capoeira, do coral infantil Harmonicanto e de um grupo de break. Ao final, os visitantes ainda puderam conhecer e comprar os trabalhos artesanais e artísticos produzidos pelos moradores.

O MuF, formado há dois anos por uma rede de parceiros, pode ser considerado o atual guarda-chuva cultural dos morros Pavão-Pavãozinho e Cantagalo - que reúne cerca de 20 mil moradores.

Moradora do Cantagalo há três anos, a MC Isabel Cristina, também conhecida como Bebel do Gueto, diz que está vendo muitas mudanças positivas desde a atuação do museu. “O MuF tem mostrado novas oportunidades para a garotada, por meio da cultura e da arte, e também tem despertado nos visitantes um olhar bem diferente da favela do que é passado lá fora.”

O italiano João Michel, professor de línguas, que está morando no Cantagalo há duas semanas, diz ter se surpreendido com a energia da comunidade. “As pessoas são vivas e calorosas, me sinto muito bem aqui.”

Já Lúcio, instrutor de break e professor no Afro-Reggae, acredita que através da arte os moradores da comunidade estão se tornando referências. “Estamos fazendo história. O MuF é fundamental porque é vivo, assim como nossa dança. Sou da favela e me considero feliz. Daqui vejo o horizonte”.

Para Ana Claudia, professora de eco-artesanato do MuF, o resgate da história da comunidade está acontecendo. “Moro aqui há 11 anos e eu não conhecia a própria comunidade.Agora, quando passo pelos becos hoje, tenho um outro olhar, uma outra visão e, como gosto muito de criar, já começo a viajar nas coisas que podem acontecer no futuro.

Segundo o diretor do DPMUS – Ibram, Mário Chagas, que vem acompanhando todo o processo de atuação do museu, o MuF se insere com destaque importante na paisagem cultural da cidade do Rio de Janeiro. “O museu tem, ele mesmo, um olhar especial para a paisagem da cidade. Um diálogo entre montanhas e a cidade realizado a partir da ocupação humana. O DPMUS apóia e viabiliza no Brasil inteiro um conjunto de iniciativas comunitárias, que denominamos de museus sociais ou pontos de memória. O MuF, desde o primeiro momento, vem recebendo este apoio.”

Ao final da visita, os visitantes foram convidados a preencher um formulário de avaliação, que servirá para o aperfeiçoamento da atuação do museu.

Pontos de Memória – O projeto tem como objetivo apoiar a criação de museus comunitários em regiões metropolitanas do país, orientando e mobilizando as comunidades no sentido de apóias-las na reconstrução e proteção da memória social e coletiva a partir de seus moradores, suas origens, histórias e valores. . A expectativa é de que a iniciativa se transforme numa referência para a comunidade e num ponto de dinamização das atividades culturais e socioeducativas locais. A iniciativa é resultado de parceria entre os Programas Mais Cultura, do Ministério da Cultura, através do Ibram, e do Pronasci, do Ministério da Justiça, com apoio da Organização dos Estados Ibero-americanos - OEI.

Fonte: Sara Schuabb, Ibram/MinC




Data de Publicação: 05/02/2010

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

FAVELA É CIDADE


Publications

Book

Na crise, esperança e oportunidade, desenvolvimento como sonho brasileiro. João Paulo dos Reis Velloso (coordenador). Campus, Rio de Janeiro, 2009 [Fórum Especial - set/2009 ].

Este livro é uma compilação dos textos Fórum Especial, realizado nos dias 17 e 18 de setembro de 2009, cujo tema foi "Na crise - esperança e oportunidade, desenvolvimento como sonho brasileiro, oportunidade para as favelas" É dividido em quatro partes, além da introdução, de autoria do coordenador-geral do Fórum Nacional, João Paulo dos Reis Velloso, que sintetiza os pontos básicos focalizados no evento.

A primeira parte de "Na crise, esperança e oportunidade" deixa claro que, a partir de eficaz enfrentamento da crise global pelo Brasil, configuraram-se grandes oportunidades de transformação da economia e da sociedade, capazes de impulsionar o país para avançado patamar de desenvolvimento. Essas oportunidades, consolidadas em nova versão do Plano de Ação contra a Crise, iniciativa do Fórum Nacional e da Cúpula Empresarial, já haviam sido parcialmente analisadas no XXI Fórum Nacional de maio de 2009. Esse exame prosseguiu no Fórum Especial, consubstanciado em importantes contribuições de Luciano Coutinho, Benedicto Fonseca Moreira, Humberto Barbato, José Antonio Muniz, Adilson Antonio Primo, Antonio Corrêa de Lacerda, Francisco Eduardo Pires de Souza e Roberto Teixeira da Costa.

A segunda parte fornece visões de membros da Cúpula Empresarial e do Fórum Nacional sobre a nova versão do Plano de Ação, apresentadas por Luiz Fernando Furlan, Emilio Odebrecht, José Luiz Alquéres, Humberto Barbato, Roberto Kauffmann, Antonio Rego Gil, Miguel Colassuono e Marcílio Marques Moreira. Elas destacam aspectos relevantes do documento, apontando para um projeto de desenvolvimento para o Brasil na próxima década que tenha o Plano e Ação como referência.

A terceira parte do livro aborda o tema "Desenvolvimento como sonho brasileiro". É a ideia de que o Brasil poderá beneficiar-se de uma visão socialmente compartilhada e politicamente relevante de seu futuro: expressando-se no lema "Desenvolvimento com inclusão"; afirmando a igualdade fundamental entre as pessoas sem negar-lhes a diversidade - étnica, econômico-social, cultural; construindo sólida cultura política e sociedade ativa e emancipada; estendendo a todos os direitos políticos civis e sociais. O tema é apreciado em variados aspectos por Roberto Cavalcanti de Albuquerque, Aloizio Mercadante, Cezar Santos Alvarez, Marcio Pochmann, Raul Velloso e Aspásia Camargo.

A quarta e última parte trata de "Segurança pública e oportunidade para as favelas". O primeiro desses temas cabe ao general Alvaro de Souza Pinheiro, que discorre sobre o papel do Exército Brasileiro nas operações de garantia da lei e da ordem, especialmente nas grandes cidades. O segundo tema é objeto de depoimentos de expressivas lideranças das favelas do Rio de Janeiro: Itamar Silva•. (As favelas e as cidades), Rossino Diniz (Oportunidades para as favelas), Marcelo Radar (A favela, uma parte da cidade que muitos querem esquecida), Sidney "Tartaruga" Silva (Favela é cidade), Mônica Santos Francisco (Mulher, participação e favela), Cleonice Dias (Favela, Estado e políticas públicas), José Mário Hilário dos Santos (O Morro de Santa Marta). E conta com participação especial do economista Paulo Rabello de Castro (Favela e violência: a resposta do Cantagalo).

R.C.A.

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO

João Paulo dos Reis Velloso

PRIMEIRA PARTE - NA CRISE, ESPERANÇA E OPORTUNIDADE

Na crise, esperança e oportunidade
Luciano Coutinho

O que fazer para expandir as exportações de manufaturados
Benedicto Fonseca Moreira

O setor elétrico e eletrônico em 2020: uma estratégia de desenvolvimento
Humberto Barbato

O setor elétrico, oportunidade única
José Antonio Muniz

Desafios e oportunidades do pós-crise para a infraestrutura
Adilson Antonio Primo

As lições da crise para o Brasil
Antonio Corrêa de Lacerda

Da reativação da economia ao crescimento de longo prazo: a questão da competitividade e do câmbio
Francisco Eduardo Pires de Souza

Inserção internacional do Brasil, economia verde e mercado de capitais
Roberto Teixeira da Costa

SEGUNDA PARTE - "VISÕES SOBRE O PLANO DE AÇÃO CONTRA A CRISE (NOVA VERSÃO)

O Brasil em novo ciclo de prosperidade
Luiz Fernando Furlan

Uma agenda estratégica
Emílio Odebrecht

O Plano de Ação: o homem e as instituições em momento de mudança
José Luiz Alquéres

Precisamos que o Brasil seja também competitivo
Humberto Barbato

A crise pouco afetou a construção civil
Roberto Kauffmann

Panorama do setor de TIC no Brasil
Antonio Rego Gil

O desenvolvimento brasileiro e a matriz energética
Miguel Colasuonno

Plano de Ação contra a Crise?
Marcílio Marques Moreira

TERCEIRA PARTE - DESENVOLVIMENTO COMO SONHO BRASILEIRO

Sobre o "Sonho Brasileiro"
Roberto Cavalcanti de Albuquerque

Cenário promissor para o futuro do Brasil
Aloizio Mercadante

Inclusão digital, dimensão da inclusão social e da promoção da igualdade
Cezar Santos Alvarez

Revolução no embate das idéias e projeto de sociedade
Marcio Pochmann

Opção por crescer menos
Raul Velloso

Vinte e um anos em busca do sonho brasileiro
Aspásia Camargo

A segurança pública, o Exército brasileiro e as operações de garantia da lei e da ordem
Alvaro de Souza Pinheiro

As favelas e as cidades
Itamar Silva

Oportunidades para as favelas
Rossino Diniz

A favela, uma parte da cidade que muitos querem esquecida
Marcelo Radar

Favela é cidade
Sidney "Tartaruga" Silva

Mulher, participação e favela
Mônica Santos Francisco

Favela, Estado e políticas públicas
Cleoníce Dias

O Morro de Santa Marta
José Mário Hilário dos Santos

Favela e violência: a resposta do Cantagalo
Paulo Rabello de Castro