domingo, 30 de janeiro de 2011

Sidney Tartaruga na Literatura

Sidney Tartaruga gostava de novelas e de instrumentos de cordas mas gostava mais de gostar de gostar de alguém. Num diário, elaborava paixões que incluíam o desenho da casa onde tocaria violão e cantaria: "Meu coração não sei porquê/ bate feliz quando te vê." O corpo de Sidney cresceu durante a adolescência como se o rapaz treinasse para o título de pesados e aos 18 anos poderia ser porteiro de discoteca. Sidney nem sequer fazia exercício, por isso estranhava a contundência da musculatura que lhe trazia mais desconforto que segurança diante das mulheres por quem se apaixonava - no mercado, na praia, no emprego como vigilante numa farmácia 24 horas. Fosse onde fosse, elas viam sempre a besta halterofilista em vez do amante suave capaz de cantar: "Os meus olhos ficam sorrindo/ e pelas ruas vão-te seguindo". Quem olhava para ele via um quebra-ossos profissional e não poderia supor que aquele colosso chorava a ouvir Maria Bethânia, tocava cavaquinho como quem faz um pedido de casamento e se desmoronava de amores pelas mulheres mais vulneráveis a depressões. Um dia, o seu amigo Jairzinho disse: "Tem que chegar forte, deixa de serenatas porque mulher gosta é de porrada". Nessa noite, Sidney dançou com Madalena na sala de casa, apertando-lhe a cintura como quem morde uma maçã. Ela ofereceu o pescoço, abriu um pouco as pernas, afastou a alça do top. Mas em vez de atacar, como sugerira o amigo, Sidney cantou: "Ah se tu soubesses como eu sou tão carinhoso/e muito muito que te quero". E Madalena disse, enquanto tirava a roupa: "Eu sei."

Escritor

hugoionline@gmail.com

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